segunda-feira, 11 de julho de 2011

Missão: regras inéditas para os cristãos


A maior parte das Igrejas colocam em primeiro lugar o dever evangélico de testemunhar e de proclamar a Palavra de Deus. Mas, evidentemente, as práticas não são as mesmas, particularmente em matéria de evangelização.

A reportagem é de Henrik Lindell, publicada na revista francesa Témoignage Chrétien

Certas campanhas de anúncio da fé, às vezes percebidas como ofensivas, por exemplo em países de maioria muçulmana, além da falta de respeito pelas diferenças culturais correm o risco de se tornarem contra-testemunhos.

Há regras comuns entre os cristãos?

Pela primeira vez, um documento que reúne as grandes correntes do cristianismo tenta responder a essa pergunta. Intitulado: "Testemunho cristão em um mundo multirreligioso: Recomendações para um código de conduta", o texto foi preparado e assinado pelo Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso, pelo Conselho Ecumênico das Igrejas e pela Aliança Evangélica Mundial.

Participaram o cardeal Jean-Louis Tauran, pelo Pontifício Conselho, Olav Fykse Tveit, secretário-geral do Conselho Ecumênico, e Geoff Tunnicliffe, seu homólogo para os evangélicos.

Por ocasião da sua apresentação em Genebra, no dia 28 de junho, ele foi definido como um "texto histórico". Parece ter sido a primeira vez, depois da reforma no século XVI, que cristãos adotam um documento conjunto cujo objetivo é fazer recomendações a todos os seus membros. Teoricamente, os três órgãos signatários representam 90% dos cristãos do mundo.

Bem comum


O que diz o documento? Mesmo insistindo no caráter essencial da proclamação da Palavra e do testemunho "para todo cristão", ele exorta a uma melhor compreensão dos "princípios do Evangelho", incluindo o respeito e o amor por todo ser humano, independentemente de sua religião ou crença.

Os cristãos são convidados a compreender melhor as crenças e as práticas que não são as suas (Princípio 10). Entre as recomendações, lê-se: "Os cristãos devem evitar apresentar sob falsa luz as crenças e as práticas de pessoas de outras religiões" (Recomendação 3). Também é sublinhada ainda a necessidade de trabalhar pela liberdade religiosa e pelo bem comum.

Muitos comentaristas falaram de denúncia de proselitismo. Na realidade, esse termo não aparece no texto. Não se encontra nem a palavra "evangelização". Na leitura, compreende-se que o que os autores consideram como um problema não é o anúncio da fé, nem o testemunho de Cristo, mas sim todo ato ou expressão que corram o risco de perturbar as relações humanas.

Foram necessários cinco anos para elaborar esse documento. O exercício em si é muito delicado. Os católicos, os luteranos-reformados, os ortodoxos e os evangélico-carismáticos têm muito pouco hábito de trabalhar juntos, particularmente sobre o problema do testemunho cristão.

Inter-religioso

Mas o fato mais "político" é que os autores explicam que trabalharam em um "espírito de cooperação evangélica". Expressam mais de uma vez o desejo de se comprometer no diálogo inter-religioso. Recomendam que todos se comprometam na "defesa inter-religiosa", a fim de promover a justiça e o bem comum.

Tudo isso pode parecer banal, mas do lado católico e sobretudo junto aos evangélicos, o reconhecimento de outras religiões, ou até de outros cristianismos, nem sempre se dá naturalmente.

Como destacou o secretário-geral da Aliança Evangélica, Geoff Tunnicliffe, esse documento é, por essa razão, "uma grande realização". As Igrejas membros das diversas organizações são agora convidadas a estabelecer as suas próprias regras em função desse código de conduta.

IHU

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