terça-feira, 10 de maio de 2011

Igreja: portas abertas para as vítimas da homofobia


"Deus ensinou a não chamar de profano ou impuro nenhum ser humano": esse versículo dos Evangelhos será recitado pelas muitas pessoas de fé reunidas em oração para recordar as vítimas da homofobia e se lembrarão de David Kato Kisule, um jovem ativista da Uganda morto por estar comprometido com os direitos das lésbicas e gays.

A reportagem é de Delia Vaccarello, publicada no jornal L'Unità, 09-05-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

De Palermo a Aosta, passsando por Milão, Pádua, Grosseto, Bolonha, Gênova, Catânia, Roma e muitas outras cidades italianas, neste ano, por ocasião do Dia Internacional Contra a Homofobia, multiplicam-se as iniciativas de cristãos e evangélicos, gays e heterossexuais simpatizantes, que se confiam ao diálogo com Deus para dar um basta à violência contra homossexuais e transgêneros.

Em Palermo, o único bloqueio de cima para baixo. A vigília não será no interior da Igreja de Santa Lúcia, na quinta-feira 12 de maio, mas será realizada na praça em frente, isto é, do lado de fora. O padre Luigi escreveu no site da paróquia que a Cúria o convidou ao respeito de um documento da Santa Sé de 1986 sobre o cuidado pastoral das pessoas homossexuais, pedindo que cancele o encontro. O grupo Ali d'Aquila respondeu que irá rezar "até diante de uma porta fechada".

É o único "não" para as vigílias celebradas dentro das igrejas, com encontros também na Espanha, em Madri, Barcelona, Valência, Sevilha, Tenerife e Jerez de la Frontera. No Peru e até em Bishkek, capital da República do Quirguistão, onde se rezará de forma quase clandestina, dadas as frequentes violações dos direitos humanos também contra gays e lésbicas. No entanto, os organizadores quiseram que a vigília fosse marcada pelo grupo Gionata, que, em seu site, informa sobre todos os encontros (www.gionata.org).

Quem irá começar o período de vigílias que termina no dia 29 de maio são as cidades de Palermo e Florença, com eventos ecumênicos: junto com cristãos homossexuais, estão rezando tanto católicos quanto evangélicos. Florença e Palermo são cidades muito ligadas às vigílias. Foi o grupo Kairos em 2007 que lançou um apelo a se unir em oração depois do suicídio do pequeno Matteo, em Turim, que não suportava mais os deboches sofridos na escola devido à sua suposta homossexualidade.

Por outro lado, o Ali d'Aquila de Palermo nasceu graças ao encontro de jovens homens e mulheres que sentiram o estímulo a recordar com a oração as vítimas da violência homofóbica. "As vigílias não são só uma comemoração dos mortos, mas nasceram justamente para abrir uma estrada no deserto da indiferença e do isolamento que muitos homossexuais percebem no ambiente que os circunda", declara uma jovem lésbica, perguntando-se: "É possível que os nossos pastores não tenham tido uma palavra para Matteo? Por qual motivo as orações nos nossos cultos dominicais jamais formulam para nós um único pensamento a respeito?".

A primeira vigília foi celebrada no dia 28 de junho de 2007, na Igreja Evangélica de Florença, para lembrar Matteo e as outras vítimas, com ministros de diversas confissões religiosas e representantes de grupos e movimentos cristãos que vieram de toda a Itália. Agora, de vítimas, tornam-se testemunhas.

"É tarefa de quem se sentiu vítima despertar as consciências e inverter o julgamento sobre si mesmo. É tarefa de quem se reconhece nessas palavras evangélicas testemunhar tamb[em com gestos concretos na sociedade", observa Federica Mandato, do grupo Ressa, de Trento.

Enquanto isso, já são quatro as dioceses da Itália – Turim, Crema, Cremona e Parma – que aprovaram pastorais de acolhida pública às pessoas homossexuais, enquanto em muitas cidades se difunde a presença de grupos homossexuais nas paróquias. O convite é claro: "Não discriminar ninguém".

Nenhum comentário:

Postar um comentário